segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O APELIDO CORREIA

Para amenizar um pouco, vou agora contar uma lenda e dizer duas palavras sobre um trovador.
Há de facto uma lenda que pretende explicar a origem do apelido Correia, dos Correias de Fralães. Vamos copiá-la de http://www.nortmais.pt/jf-montedefralaes/heraldica.asp:
«A história desta freguesia (Monte de Fralães) está ligada à antiquíssima Honra de Fralães, pertença da família dos Correias, cujo primeiro patriarca de que há notícia é D. Paio Ramires, um Rico-Homem em Portugal, no tempo de D. Afonso VI, rei de Leão, que teve como sucessor Soeiro Pais. Este, tendo sido sitiado pelos mouros, em Montemor-o-Velho, e tendo caído em carência de subsistência, sustentou-se, durante algum tempo, das correias da armadura e dos arreios do seu cavalo. Deste tão duro e forçado manjar tomou apelido o seu filho, D. Paio Soares Correia, o qual foi Senhor de Fralães e padroeiro das Igrejas de S. Pedro do Monte e de Viatodos, assim como já o tinham sido os seus antepassados». D. Paio Soares Correia é o avô de D. Paio Peres Correia, como já vimos. Seria mais ou menos contemporâneo de D. Afonso Henriques. Sendo assim, já pouca base histórica pode ter esta explicação da lenda, pois os mouros nessa altura já se não aventurariam até Montemor-o-Velho. De facto, parece que o apelido Correia deriva de uma função militar, que não sabemos especificar.
A propósito de Viatodos, informa as Inquirições de D. Afonso III que «em Britelos, no casal que foi de D. Gontinha criaram recentemente uma filha de João de Guilhade» (Item, dixit quod in Britelus, in casali que fuit Domne Guntine, nutriverunt modo filiam johannis de Guiladi).
É verdade, o conhecido trovador andou por estas paragens; confirma-o o seu principal biógrafo, Costa Lopes. E há até uma questão que pode embaraçar: um poema cruamente obsceno de Guilhade fala duma D. Ouroana. Mas não é nem a filha de D. Gontinha nem uma conhecida aia da Rainha D. Mafalda. Não, era apenas uma soldadeira.

NB - A imagem é do interior do castelo de Montemor-o-Velho.

domingo, 30 de dezembro de 2007

OS AVÓS PATERNOS DE D. PAIO PERES CORREIA

O que vai ser dito de seguida – e que pode ser confirmado nas Inquirições de D. Afonso II e D. Afonso III – apesar de não ser de agradável leitura, é fundamental para garantir a naturalidade fralanense de D. Paio Peres Correia.
Em 1258 S. Pedro do Monte (actual Monte de Fralães, repito) era «honra antiga de Paio Correia». E Paio Correia continuava a ser D. Paio Soares Correia, não o seu insigne e quase homónimo neto, que estava no auge da sua carreira (em Nabais, D. Paio Soares Correia é explicitamente referido como pai de D. Ouroana Pais).
Viatodos é, numa parte muito significativa, «Honra de Farlães», isto é, a Honra de Fralães alongava-se pela freguesia vizinha, freguesia onde se encontra repetida menção da sua primeira esposa, D. Gontinha Godins, que aí teve uma herdade, um casal e uma quinta. Duas destas propriedades prolongavam-se por Nine, onde também se fala de uma herdade e de uma quinta que a mesma D. Gontinha possuíra. Os lugares ninenses de Quintãs e Ribeira eram «honra antiga de pousada de D. Paio Correia».
Em S. Veríssimo (posteriormente integrada em Cavalões), «toda esta paróquia é honra do ilustre rei D. Afonso Henriques ou honra de D. Paio Correia», e em Cova haviam-se criado uma filha sua do segundo casamento, Maria Pais Correia, e uma neta, filha de D. Ouroana e Pêro Gravel, Sancha Peres Gravel.
S. Vicente, anexada a Gondifelos, «é honra antiga dos Correias desde antigamente» e foi aí criada Sancha Pais Correia, irmã de D. Ouroana. Ocorre lá o nome do seu marido, Reimão Peres, e referem-se filhos. Também aí viveu D. Maria Pais Correia, de Fiães; o texto menciona os seus filhos, os cavaleiros Rui Vasques Quaresma e Martinho Vasques.
Gresufes, incluída depois em Balasar, «é honra antiga de D. Paio Correia o Velho».
Em Nabais, Paio Correria surge como pai de «D. Ouroana Pais», casada com Pêro Gravel (que terá levado os Correias para esta terra à beira-mar? Havendo por lá vários Godins, seriam eles aparentados com D. Gontinha?)
Por onde quer que tenha andado ao longo da sua vida, as raízes fralanenses de Paio Soares Correia parecem bem fundas. Nas proximidades desta freguesia possuía largas propriedades. Ao olhar da encosta do monte d’Assaia, onde tinha o seu palácio, para nascente e sul, deliciar-se-ia com o espectáculo dos seus domínios nas férteis margens do Este e onde viviam familiares seus.
Benfeitor do Mosteiro da Várzea, Paio Soares Correia terá sido sepultado junto ao seu palácio na chamada «Campa dos Mouros», um túmulo aberto em duro granito no lugar que muito tempo se chamou do Paço. Homem de corte, os seus filhos todavia terão tido a vida ligada a Fralães.
Já rastreámos alguns dos passos de D. Ouroana (e até já lhe encontrámos uma filha em Cavalões), bem como da irmã D. Sancha. Com o marido, D. Ouroana comprou uma vez em Silveiros as «herdades de Madinos».
D. Sancha também faz aquisições em S. Vicente.

sábado, 29 de dezembro de 2007

OS AVÓS PATERNOS DE D. PAIO PERES CORREIA

Os genealogistas, repetindo o Nobiliário do Conde D. Pedro, ensinam que D. Paio Peres Correia era neto de D. Paio Soares Correia. Este D. Paio Soares Correia casou primeiro com D. Gontinha Godins e depois D. Maria Gomes. Foi do segundo casamento que nasceu o pai de D. Paio Peres Correia.
Como o Grão-Mestre de Santiago não terá nascido depois de 1210 – para ter uns 18 anos quando entra para a Ordem militar – o seu pai deveria ter nascido ao menos uns 20 anos antes, o que nos leva para 1190. Como D. Maria Gomes volta a casar e tem depois filhos, seria ainda jovem por altura do segundo casamento. Isto é, casa após a morte do primeiro marido, morte que há-de ter acontecido quando os filhos desse casamento eram crianças, portanto talvez ainda antes da década de 1190.
Ao certo sabe-se que D. Paio Soares Correia morreu antes de 1220, pois nesta data o Mosteiro de S. Bento da Várzea já era senhor de um casal de Nabais, Póvoa de Varzim, que ele lhe deixara à sua morte.
Investiguemos a memória que as Inquirições conservam do avô paterno de D. Paio Peres Correia nas proximidades de Fralães.
Em 1220, a freguesia de S. Pedro do Monte (actual Monte de Fralães) — mencionada no Censual do Bispo D. Pedro século e meio antes — foi ignorada pelos inquiridores. Por isso, apesar de as Inquirições de 1220 fazerem menção das duas filhas do primeiro casamento de Paio Soares Correia (D. Ouroana, em S. Salvador de Silveiros e Nabais, D. Sancha, na «Honra dos Correias», em S. Vicente, Gondifelos) o nome deste Correia só aparece em 1258. Mas nesta data é ver quem mais o lembra. (continua)

NB - Na imagem, pedra com uma rosácea sexfólia que se presume que terá pertencido à igreja medieval de Monte de Fralães, aquela em que terá sido baptizado D. Paio Peres Correia.

O SOLAR DE FRALÃES

O edifício actual do Solar de Fralães não tem a grandiosidade dos de outros solares. Mas aquela torre senhorial faz inveja a muitos.
A torre e algumas portas do rés-do-chão em ogiva deverão vir do séc. XV, o resto do edifício é reconstrução de finais do séc. XIX. Tinha havido obras significativas em meados do séc. XVIII, mas hoje o seu resultado não é reconhecível.


O P.e Carvalho da Costa da Costa deixou do solar uma descrição sem dúvida exagerada:
«Têm estes senhores aqui a maior Casa das antigas de quantas vi em Portugal, & Galiza, com Torres, grandes salas, muitas fontes curiosas, jardins, & hortas, dilatados pomares de toda a fruta ordinária, & de espinho, & uma grande mata de Carvalhos, & Castanheiros, cousa magnifica».
Em meados do século há contudo referência à torre que conhecemos hoje.
Não foi nesta casa que nasceu D. Paio Peres Correia. O solar do seu tempo devia ficar a uns 300/400 m para poente do actual, na encosta do monte. De facto, houve aí até há um século o lugar do Paço – que aliás teria origem romana, como no-lo afirmou um arqueólogo que visitou o local.
O autor da Corografia Portuguesa, quando passou por Fralães, fez uma descoberta arqueológica: encontrou a servir de degrau numas escadas uma lápide romana dedicada a um tal Aurélio Patrício por um seu filho legionário. O P.e Carvalho fez porém uma leitura fantasiosa da inscrição. A lápide guarda-se hoje no Museu de Martins Sarmento, em Guimarães.
Pela altura em que os Marqueses de Monfalim restauraram o solar, um sacerdote de Viatodos escreveu sobre ele o seguinte soneto:

Fralães, matrona que possuiu nobreza,
todo em ruínas, seu solar deplora,
narrando ainda a prístina grandeza,
poder e fausto que ela teve outrora.

De quantos bens e honras foi senhora,
E hoje vive esquecida... e na pobreza!
Pelas humildes vestes de pastora,
Trocou as galas ricas de princesa!

Mas assentada, no alto, em seus penedos,
contempla ainda, como antigamente,
montes, planícies, rios e arvoredos...

A mão dos tempos que pesou sobre ela
tudo que tinha lhe roubou... Somente
a deixou sempre assim graciosa e bela.

NB - Na primeira imagem vê-se o Solar de Fralães e na segunda uma das suas portas em ogiva, junto à torre senhorial.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

A PALAVRA FRALÃES

Farelães é o solar
Que aos Correias deu o ser,
E D. Paio veio a ter,
O qual fez o sol parar,
Para os mouros vencer.

A nossa afirmação de que D. Paio Peres Correia é natural de Monte de Fralães, Concelho de Barcelos, assenta, como a seu tempo veremos, numa investigação feitas nas Inquirições e na continuada tradição genealógica. Neste sentido, esta quintilha de D. João Ribeiro Gaio - que foi bispo de Malaca, mas que era natural de Vila do Conde - mesmo inquinada de lenda, confirma a tradição genealógica.
D. João Ribeiro Gaio adopta, para designar Fralães, a forma Farelães, que é errada, sem base histórica, e que assenta na suposição de que a palavra deriva de farelo.
Curiosamente, o pai do vocábulo Fralães é um pároco de Monte de Fralães, também da segunda metade do séc. XVI (como D. João Ribeiro Gaio), que se chamava Jácome Dias. Ele dedicou-se de alma e coração à sua pequena paróquia e teve o bom senso de deixar memória da sua obra. Nuns relatórios que abrem o livro dos registos paroquiais, que iniciou, usa por duas vezes a forma Fralães (veja-se, na imagem, a «capa» desse livro).
Noutros documentos continuou a escrever-se Farelães e, em finais do séc. XVII, Cristóvão Alão de Morais, na Pedatura Lusitana, defende explicitamente a forma Farlães — «que assi se acha nas escrituras antigas». A forma Fralães teve a sua primeira grande consagração, cerca de 1700, na Corografia Portuguesa, cujo autor certamente consultou os registos do P.e Jácome Dias.
Farlães vem nas Inquirições de D. Afonso III, na acta de Viatodos (vizinha de Monte de Fralães).
Hoje escreve-se Fralães, sem que seja possível deslindar o seu étimo.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

ABERTURA

Fantasías aparte, es innegable que su nombradía (de D. Paio Peres Correia) se asienta en una vida militar llena de gloriosos hechos, como lo demuestra el que se le confiase el mando del ejército español en aquel período verdaderamente heroico de la Reconquista.
Fue Gran Maestre de la Orden de Santiago y tanto los monarcas portugueses como los castellanos, se disputaran el honor de tenerle à su servicio.

Enciclopedia Universal Ilustrada Europeo-Americana


«Os dados para a composição de uma biografia (sobre Paio Peres Correia) são vastíssimos» (Henrique David). Todavia essa biografia ainda não existe. E, enquanto assim for, o seu lugar na história não será devidamente equacionado. O lugar de um homem denodado, que lutou em território português, particularmente algarvio, nos reinados de Sancho II e Afonso III, mas sobretudo em Castela, sob Fernando III e Afonso X.
O esclarecimento das suas raízes fralanenses (do Solar de Fralães, no Concelho de Barcelos) cremos que é tarefa importante, para que haja quem o reivindique, quem, considerando-o seu, accione iniciativas que promovam a reflexão sobre a acção que desenvolveu.
Se a composição de uma biografia não está ao nosso alcance, isso não impede que registemos aqui um pouco do que sobre ele se pode saber.