sábado, 26 de janeiro de 2008

A CONQUISTA DE SILVES

A Silves árabe fora a cidade mais rica e mais culta do Algarve. O seu porto — pois o mar quase chegava aos muros — era movimentado. Em 1189, um cruzado declarou-a dez vezes mais rica que Lisboa. A Crónica da Conquista do Algarve conta também como ela foi tomada por Paio Peres Correia. No castelo foram descobertas umas ossadas que os arqueólogos afirmam ser de um homem morto na tomada da cidade. Almeida Garrett aproveitou este episódio para a sua D. Branca, onde entra Alamafom:

Por esta guisa que haveis ouvido, aprouve a Deus de dar a vila de Tavira em poder dos Cristãos; e depois que a deixou o mestre segura de todo o que lhe cumpria, foi a Selir e tomou-o por força e então foi cercar Paderne, que é um castelo forte e mui bom, de grão comarca, em redor de Albufeira e a serra; e estando sobre ele, mandou gente ao termo de Silves que fossem tomar a torre de Estômbar, que dantes fora sua. E foram lá e houveram-na outra vez, e quando Alamafom, seu Rei deles, que estava em Silves, soube como aquelas companhas ali eram, saiu a eles do lugar com a mais companha que pôde, porque lhe disseram que estava ali o mestre com todo o seu poder; e o mestre, como soube que era fora, alçou-se logo de sobre Paderne e veio-se lançar sobre Silves. Alamafom, indo para a torre de Estômbar, achou novas que não era ali o mestre e que não estava ali mais gente que aquela que tomara a torre e a defendiam; porém, quis lá chegar e logo mui à pressa se tornou para a vila e logo se temeu do que era, e o mestre lançou-lhe uma cilada que lhe tinha já tomado as portas e as gentes repartidas por elas. E El-Rei Alamafom, quando isto viu, querendo entrar por força por a porta que chamam de Zóia, porque era lugar desembargado, encontrou-se ali com o mestre, que tinha a guarda dela; e el-Rei mouro vinha com todos os seus juntos e ali se viu o mestre com grande trabalho com eles e foi a peleja em um campo fora, junto com a vila, onde ora está uma igreja que se chama Santa Maria dos Mártires, e os mouros fizeram muito por cobrar a porta e se meteram sobre a torre de Zóia, porque é bem saída e marcos para fora. Mas isto não lhe prestou nada, porque os Cristãos andavam em volta com eles e assim entraram com eles pela porta da vila; e ali foi a peleja tão grande em guisa que mais Cristãos morreram ali que em outro lugar que se no Algarve tomasse. E El-Rei mouro andou pela vila em redor e quisera-se acolher pelo postigo da traição a um alcácer em que ele morava e achou o postigo embargado. Foi para se acolher por outra porta da vila e achou-a cerrada e então, de desesperação, deu de esporas ao cavalo e fugiu e passando por um pego afogou-se ali. E o acharão depois morto e agora chamam àquele lugar o Pego de Alamafom.
Dos mouros que ficaram ao alcácer e o trabalharam de o defender quanto podiam e o mestre não o quis combater que segurou-os que viessem à vila se quisessem e aproveitassem suas herdades e lhe conhecessem aquele senhorio que conheciam ao Rei mouro, e assim fez aos outros lugares que tomou e não combatiam os alcáceres em que se os mouros recolhiam mas segurava-os a que vivessem nas terras por serem aquelas aproveitadas e depois ali edificada uma igreja catedral e foi feita a cidade.
Então se tornou o mestre a Paderne, que antes tivera cercada, e tomou a vila e o castelo por força e não se pleitearam com eles matando os mouros por dois cavaleiros freires que aí mataram. Esta vila de Paderne se mudou naquele lugar que agora chamam Albufeira, porém ainda a outra está murada e corrigida com seu castelo e uma cisterna mui boa dentro.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

PAIO PERES CORREIA E A CONQUISTA DE TAVIRA

Paio Peres Correia é o herói da Crónica da Conquista do Algarve. Veja-se como ele se assenhoreou de Tavira:

Enquanto os cristãos pelejaram, chegou recado ao mestre a Cacela, onde estava, e cavalgou logo com suas gentes o mais apressadamente que pôde por lhes acorrer, porque bem sabia que outra míngua não havia de passar por eles senão vencer ou morrer; e trouxe o caminho que eles trouxeram. E entrou pela porta da vila, e passou pela praça sem nenhuma contradição, e tão cioso ia por lhes socorrer que não houve sentido de tomar a vila, que bem pudera tomar se quisesse. E quando chegou às antas e viu os cavaleiros mortos, começou com os mouros mui dura peleja; e morreu tanta gente deles que ainda hoje em dia jaz ali a ossada deles; e desde que os venceu, seguiu o alcance fazendo grande estrago em eles.
Os mouros que estavam na vila, quando o mestre por ela passou, foram espantados de sua vinda e não cuidaram que o mestre sabia disto parte e mui à pressa cerraram as portas temendo-se do que depois se seguiu. E quando os viram assim vir fugindo não lhes ousaram abrir as portas e saíram para os recolher dentro e abriram-lhes uma porta escusa que está contra a mouraria; e os Cristãos deram ali com eles e não havendo em si acordo de se defenderem, entrou o mestre com eles de volta e cobrou a vila e apoderou-se dela; e foi estranha a mortandade que o mestre e os seus fizeram em os mouros e também nos da vila, como nos que morreram fora. E não consta se o Abem Fabila, mouro senhor deste lugar, foi em esta batalha e morreu em ela ou se ficou no lugar e o que se fez dele.
Foi esta batalha e os mouros mortos em Tavira ganhada aos mouros aos onze dias de Junho, por dia de São Barnabé, na era de mil e duzentos e quarenta e dois anos; tomada a vila, a deixou o mestre segura e tornou com muita gente às antas onde jaziam os cavaleiros mortos e com grandes gemidos e dor os tiraram dentre os mouros, que jaziam os corpos deles lançados no sangue, com as espadas nuas; e trouxeram-nos à vila e fizeram na mesquita-mor Igreja de Santa Maria. E mandou o mestre fazer um monumento em que pôs sete escudos com as vieiras do Senhor Santiago e ali foram soterrados todos seis e o mercador com eles, os nomes dos quais são os que se seguem: dom Pêro Paes, comendador-mor, Mem do Vale, Damião Vaz, Álvaro Gracia, Estêvão Vaz, Valério de Ossa e o mercador Gracia Rodrigues, cujos corpos foram depois tidos em grande relíquia e reverência e devoção, como a mártires que espargiram seu sangue por honra da fé de Jesus Cristo.


Imagem de cima, trecho das muralhas do Castelo de Tavira; imagem de baixo, placa toponímica na mesma cidade.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

UMA CANTIGA CONTRA D. PAIO PERES CORREIA

Paio Peres Correia tem um lugar, modesto embora, na poesia. Lembra-o Camões em Os Lusíadas (Canto VIII, est. 26-27), aproveita-o Garrett na D. Branca e pelos vistos, também inspirou poetas espanhóis. A cantiga que aqui vamos colocar, encontrámo-la pela primeira num escrito de um historiador, como já foi assinalado; ela é um caso especial, já que não só lhe é contemporânea, mas comenta – depreciativamente – um momento da sua vida, o da eleição para Mestre da Cavalaria de Santiago.
A versão que adopto é a de Graça Vieira Lopes em «Rostos Literários da Nobreza» (www.fcsh.unl.pt/docentes/gvideiralopes/index_ficheiros/Rostos.pdf).
O autor, Pêro Mendes da Fonseca, certamente por inveja, ridiculariza Paio Peres Correia, por ignorante e bisonho.
Ocrês é Uclés, sede da Cavalaria de Sant’iago.

Chegou Paio de más artes
com seu cerame de Chartes;
e nom leeu el nas partes
que chegasse há um mês
e do lũes ao martes
foi comendador d' Ocrês.

[A]ssemelha-me busnardo,
vind' em seu ceramem pardo;
e, u nom houvesse reguardo
em nem um dos dez e três,
log' houve mant' e tabardo
e foi comendador d' Ocrês.

E chegou per ũa 'strada,
descalço, gram madurgada:
u se nom catavam nada
d' ũũ hom' atam rafez,
cobrou manto com espada
e foi comendador d' Ocrês.


Na imagem, cantiga de Pero Mendes da Fonseca segundo a cópia quinhentista do Cancioneiro da Biblioteca Nacional.

domingo, 6 de janeiro de 2008

A CAMINHO DO SUL

Em 1239, Sancho II doa à Cavalaria de Santiago, na pessoa do seu comendador, Mértola, Aiamonte e Alfajar de Pena. Para a doação de Mértola, fez escrever o rei [1]:

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amen.
Saibam todos que esta carta virem que eu, Sancho II, por graça de Deus rei de Portugal, por minha boa e livre vontade, e por acordo e parecer dos meus fidalgos e ricos-homens e pelo óptimo serviço que me prestaram D. Paio Peres Correia, comendador de Alcácer, e os freires do mesmo castelo da Ordem de Santiago, e como meio de salvação da minha alma, da do meu pai, da da minha mãe e dos meus predecessores, lhes dou e concedo à Ordem de Santiago o meu castelo de Mértola, com todos os seus termos (...)


Entretanto, Paio Peres Correia tinha deslocado para esta povoação a parte da Ordem que dele dependia. Mértola era realmente um lugar apropriado para dirigir a luta a sul [2].

[1] Original em latim:
In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti amen. Notum sit omnibus hanc litteras pecturis quod ego Sanctius Secundus Dei gratia rex Portugal de mea bona et libera uoluntate et de consensu et autoritate meorum preceptorum et magnatum et promulto bono seruitio quod mii fecerunt donus Pelagius Petri Corrigia comendador de Alcaçar et fratres eiusdem casta Ordinis Milicie Sancti Jacobi et pro remedio anime mee et patris mei et matris mee et predecesorum meorum do et concedo eis et ordini Milicie Sancti Jacobi castellum meum de Mertola cum omnibus terminis suis (...)
[2] Em 1254, Paio Peres Correia concedeu foral a Mértola. Eis a parte inicial do documento:
In nomine sancte et indiuidue trinitatis Patris et filii et spiritus sancti. Amen.
Esta he a carta de foro qual encomendamos a fazer, Eu dom paay periz pela graça de deus Meestre da ordem da cauallaria de Santiago em sembra com Dom gonçalo periz Comendador de mertola e com ho conueento desse meesmo logo a vos pobradores de mertola assi aos presentes como aos que ham de viir: damos a uos foro e costume deuora por terra, e de lixbooa pelo riio e pello mar (...)

Na imagem, cavaleiro de Santiago contemporâneo de Paio Peres Correia.

sábado, 5 de janeiro de 2008

PAIO PERES CORREIA COMENDADOR DE ALCÁCER DO SAL

A parte mais original deste trabalho foi a que colocámos em linha até ao momento. A partir daqui vamos principalmente apresentar o que outros investigadores reuniram.
Com pouco mais de vinte anos, Paio Peres Correia terá entrado na Ordem da Cavalaria de Santiago. Assim, em 1230, é já «ádito» à Ordem. Em 1235, ostenta o título de comendador de Alcácer do Sal.

Em carta de doação da vila de Aljustrel à Cavalaria de Santiago, datada de 31/3/1235, Sancho II já se lhe dirige nestes termos: a vós, Paio Peres, comendador de Alcácer («vobis Pelagio Petri commendatori de Alcacer»)[1].
Alcácer do Sal havia sido definitivamente arrebatada aos Mouros em 1218, numa difícil batalha da iniciativa do bispo de Lisboa e em que participaram centenas de Cruzados. Um deles deixou um poema que exalta o memorável acontecimento.
Ser comendador nessas paragens era então, para este jovem e aguerrido espatário, um grande desafio. Desafio que ele largamente venceu.
Provavelmente sob o seu impulso, a reconquista ganha nova dinâmica. As vitórias cristãs sobre os Mouros multiplicam-se (Moura e Serpa devem ter sido conquistadas em 1232; Aljustrel, em 1234; Mértola e Alfajar de Pena, em 1238; Aiamonte e Cacela, em 1239 ou 1240; Alvor, em 1240 ou 1241; Tavira e Paderne, em 1242).
A ser assim, o autor da cantiga de escárnio é mesmo muito injusto com este novel espatário.

[1] A Aljustrel há-de Paio Peres Correia dar foral, em 1252. Veja-se a parte inicial do documento:
Esta é a carta de foro que mandámos fazer, eu, D. Paio Peres, pela graça de Deus Mestre da Ordem da Cavalaria de Santiago, juntamente com Gonçalo Peres, comendador de Mértola, com o convento do mesmo lugar, a vós, povoadores de Aljustrel tanto presentes como futuros: damo-vos pois o foro e o costume de Alcácer (...)


NB - Na imagem, trecho das muralhas de Alcácel do Sal.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

PELAY PÉREZ CORREA

Ainda há cerca de um ano tínhamos investigado Paio Peres Correia na Internet e não tínhamos encontrado coisa digna de menção. Talvez tivéssemos procurado mal. Veja-se um pouco do que por lá há – muito interessante – em língua espanhola; procura-se Pelay Pérez Correa.

Tese de Doutoramento
Em http://www.jornadasdehistoriaenllerena.com/VIII%20JORNADAS/comunicaciones/Resumenes%20comunicaciones/Marcos.htm, fala-se duma tese de doutoramento, escrita por Manuel López Fernández. Este autor é Natural de Calera de León. Militar de profesión y doctor en Historia por la UNED con la tesis La Orden de Santiago y el maestre Pelay Pérez Correa. Profesor tutor del Centro Asociado de la UNED en Algeciras y miembro del Instituto de Estudios Campogibraltareños, sus líneas de investigación están relacionadas con el Estrecho de Gibraltar y con la Orden de Santiago. Sus trabajos han sido publicados en actas de congresos celebrados en España y Portugal, o publicados en revistas como Albassit; Almoraima; Cuadernos del Archivo Central de Ceuta; Espacio, Tiempo y Forma; Historia. Instituciones. Documentos; Revista de Estudios Extremeños; Revista de Historia Militar; Revista de las Órdenes Militares; y otras de menor difusión en las provincias de Alicante, Badajoz, Cádiz, Murcia y Sevilla.
Fala-se também duma comunicação intitulada «Un maestre santiaguista entre Portugal y Castilla: aproximación a un itinerario de Pelay Pérez Correa, por D. Manuel López Fernández».

Uma cantiga de escárnio
Em http://62.204.194.45:8080/fedora/get/bibliuned:ETFD2D1138F-B841-89CF-982A-D5D8E82AD6C4/PDF, encontra-se um muito interessante artigo sobre uma cantiga de escárnio que atinge Paio Peres Correia, com informação muito variadas de ordem bibliográfica, e que até menciona Fralães (Farelães).

Um Paio Peres Correia devoto de Santa Eulália
Em http://www.telefonica.net/web2/manueldominguezmerino/WEB/LITERATURA/ARTICULOS/PDF/Don%20Pelay%20Perez%20Correa%20en%20la%20devocion%20a%20Santa%20Eulalia.pdf, Manuel Domínguez Merino retrata-nos um Paio Peres Correia exemplar. Veja-se sobretudo a parte final do escrito.

Concurso literário-histórico
Por fim (embora haja muito mais), paga a pena ler uma notícia em http://www.hoy.es/prensa/20070214/cultura/maestro-juan-calero-convoca_20070214.html, que chega a falar dum concurso histórico-literário ‘Pelay Peréz Correa’:
El IES 'Maestro Juan Calero' convoca el primer concurso de jóvenes intérpretes.
Paralelamente se convocan los concursos de cuento y poesía y el histórico literario 'Pelay Pérez Correa'.


NB - A imagem representa um azulejo de Tentudia onde Paio Peres Correia surge aureolado, como um santo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

D. PAIO PERES CORREIA NA INTERNET E NA TOPONÍMIA

O nosso estudo de D. Paio Peres Correia vem já de há várias décadas, de quando não havia Internet nem computadores. Publicámos várias artigos sobre ele na imprensa barcelense e mais recentemente colocámo-lo também on line. Veja-se:
http://www.eseq.pt/sites_de_terceiros/trab_profs/paio_peres.htm
http://professores-com-alexandrina.blogspot.com/2007/03/paio-peres-correia-na-conquista-de.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paio_Peres_Correia
Parte deste artigo foi traduzido para as Wikipédias espanhola e inglesa.
Com algum fundamento no nosso trabalho, ou não, o certo é que cresceu, ao que aprece, o interesse popular por esta figura, a ponto de o seu nome ser atribuído a uma escola e de em Samora Correia lhe terem erguido uma estátua.
Há muitas terras, especialmente de além-Tejo, que o lembram na sua toponímia: Setúbal, S. Sebastião, Paio Pires, Samora Correia, Aljustrel, Messejana, Tavira, Silves, Loulé, Estombar e certamente outras. Também em Lisboa há uma rua com o seu nome, outra em Galiza (Estoril) e outro tanto se passa na sua terra natal, Monte de Fralães.
Em Triana, Sevilha, há a Calle Pelay Correa; mas nas proximidades exsitem mais quatro calles e um Camino del Molino de Pelay Correa; na zona de Badajoz, existem duas calles Pelay Pérez Correa.
Agora uma curiosidade: há anos, o Presidente da República Portuguesa foi a Salamanca, onde há qualquer monumento a D. Paio Peres Correia. O cônsul português da cidade quis falar disso ao seu Presidente, mas não sabia nada sobre o homem. Então pediu informação a um seu antigo condiscípulo, que era nosso colega. Este, por sua vez, falou-nos do caso e pediu-nos uma separata para enviar ao cônsul. Penso que o Presidente da República terá então tido oportunidade de ouvir falar do conquistador do Algarve, via um escrito nosso.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

IRMÃOS DE D. PAIO PERES CORREIA NAS PROXIMIDADES DE FRALÃES

A lista completa dos filhos de Pêro Pais Correia é a seguinte: Paio Peres Correia (o Grão-Mestre de Santiago), João Correia, Martim Correia, Soeiro Correia, Gomes Correia, outro Paio Correia (o Alvarazento), D. Mor Peres Correia e D. Sancha Peres Correia.
Por terras de Basto, mencionam-se uma vez, em 1258, a esposa do filho Gomes Correia e uma outra vez os «filhos de Soeiro Correia». Nada mais. É bem diferente o que se passa cá por baixo.
Gomes Correia, afinal, fora criado em S. João de Bastuço e a sua esposa viveu no Louro, cercanias de Fralães, que continua a ser o lar, o ponto de partida.[1]
À sua esposa, mulher com certeza muito rica, chamavam D. Maria de Fralães. Será que foi Gomes Correia quem herdou a casa?

Soeiro Correia, esse viveu por algum tempo em Nine:
«Foram aí acolhidos João Lourenço da Cunha e Gonçalo, filho de João Correia, e Estêvão Martins, filho de Martim Jejuno, e Soeiro Peres Correia».
Sabendo que os Lourenços da Cunha pertenciam à primeira nobreza, vê-se que estava bem acompanhado. Soeiro Correia virá a ter um genro do Louro, João Pires Velho, familiar com certeza de um Soeiro Pires Velho que se sabe que recebera João Peres Correia em Grimancelos.
João Peres Correia é assinalado então em Grimancelos, mas também em Remelhe e em Santavaia de Arnoso.
D. Mor Pais Correia casa para Molnes, hoje Remelhe. O seu marido, Estêvão Peres de Molnes, é mencionado; ao menos um dos seus filhos, Lourenço Esteves de Molnes, aparece em Remelhe, tendo protagonizado um amádigo.
A presença de vários dos irmãos de Paio Peres Correia é assim assinalada na região:
João, em Grimancelos, Arnoso e Remelhe; Soeiro, em Nine; Gomes, em S. João de Bastuço; (o marido de) D. Mor, em Molnes. Seriam crianças de Fralães. É de crer que com os outros acontecesse o mesmo, já que seria aí o lar paterno.
João Correia, na idade adulta, continua a defender por cá interesses seus.
A mulher de Gomes Correia, «D. Maria de Fralães», recebe uma renda no Louro, porque por aí passou ao menos parte da infância. Seria das redondezas.
Verifica-se pois que o paço de Fralães (mencionado numas inquirições de D. Dinis como o paço de Paio Soares Correia) foi da maior importância para os antepassados imediatos e para os irmãos de D. Paio Peres Correia, pesem embora as razões que poderiam opor-se a esta constatação.
Sendo assim, deverá aceitar-se que ele aqui terá passado os longos e doces anos da infância, que por aqui se terá feito homem e que a Fralães se terá mantido sentimentalmente ligado ao longo das andanças variadas e tantas vezes guerreiras da sua vida.
Tudo isto configura uma situação que faz sentido se admitirmos a residência de Pêro Pais Correia em Fralães – onde lhe terão nascido os filhos.

[1] Este Gomes Correia «teve também uma acção importante na reconquista. Em 1243, aparece a confirmar um privilégio do príncipe D. Afonso em que são doadas à Ordem de Santiago as vilas de Galera, Orce, e outras próximas, como recompensa dos serviços prestados aquando da reconquista de Chinchila, e no mesmo ano, quando o futuro rei sábio confirma a doação dos castelos de Serra e do Alto Segura à Ordem de Santiago, Gomes Pires fica tenente de importante praça de Cieza» (Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval, vol. III, Centro de História da Universidade do Porto, Porto, 1989, pp. 1030-1).
«Foi casado com Maria Anes Redondo I, filha de João Pires Redondo I, um dos cavaleiros beneficiados no «Repartimiento» de Sevilha, e de Gontinha Soares de Melo» (loc. cit.).

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

D. PÊRO PAIS CORREIA

Para determinar a naturalidade de D. Paio Peres Correia, nada melhor que reunir informações sobre o seu pai e a sua mãe. Mas elas são muito escassas.
Pêro Pais Correia, o pai do futuro Grão-Mestre de Santiago, nascido da segunda esposa de Paio Soares Correia, aparece em Balasar por causa de um amádigo. A «Vila do Casal» «toda está honrada por meio de D. Pêro Pais Correia, que aí foi criado», dizem as Inquirições.

Como seu pai, também Pêro Pais Correia terá sido frequentador do paço. O nobiliarista Felgueiras Gaio escreve sobre ele:
A este chamava a rainha D. Brites, mãe do rei D. Afonso III, «mi Padre», como consta das Inquirições do rei D. Afonso. Devia ser por ele ter alguma inspecção na sua criação.
Embora a citação contenha o erro de dizer que a mãe de Afonso III se chamava D. Brites — D. Brites poderia ser era a segunda esposa deste rei — parece confirmar que ele fosse frequentador assíduo da corte.
O mesmo autor regista ainda sobre ele a seguinte façanha pouco edificante:
... comprou uma quinta no Couto do Mosteiro de Roriz em que fez umas casas, que lhe quiseram impedir os priores dele, pelo que lhe matou dois religiosos, como consta das Inquirições do rei D. Dinis.
O casamento que fez com uma rica herdeira de terras de Aguiar e de Basto, herdeira que nem sequer tinha irmãos rapazes, mas apenas outra irmã..., tê-lo-á afastado de Fralães? Eis uma questão decisiva.
A nossa resposta, assente apenas no texto das Inquirições de 1258, é que parece que ele e sua família, para residência, deram preferência ao paço de Fralães sobre as terras do interior. Veremos o que se passou com alguns dos seus oito filhos — seis rapazes e duas raparigas.

NB - A imagem representa um trísceles emoldurado que terá pertencido à igreja medieval de Monte de Fralães.