sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

UMA CANTIGA CONTRA D. PAIO PERES CORREIA

Paio Peres Correia tem um lugar, modesto embora, na poesia. Lembra-o Camões em Os Lusíadas (Canto VIII, est. 26-27), aproveita-o Garrett na D. Branca e pelos vistos, também inspirou poetas espanhóis. A cantiga que aqui vamos colocar, encontrámo-la pela primeira num escrito de um historiador, como já foi assinalado; ela é um caso especial, já que não só lhe é contemporânea, mas comenta – depreciativamente – um momento da sua vida, o da eleição para Mestre da Cavalaria de Santiago.
A versão que adopto é a de Graça Vieira Lopes em «Rostos Literários da Nobreza» (www.fcsh.unl.pt/docentes/gvideiralopes/index_ficheiros/Rostos.pdf).
O autor, Pêro Mendes da Fonseca, certamente por inveja, ridiculariza Paio Peres Correia, por ignorante e bisonho.
Ocrês é Uclés, sede da Cavalaria de Sant’iago.

Chegou Paio de más artes
com seu cerame de Chartes;
e nom leeu el nas partes
que chegasse há um mês
e do lũes ao martes
foi comendador d' Ocrês.

[A]ssemelha-me busnardo,
vind' em seu ceramem pardo;
e, u nom houvesse reguardo
em nem um dos dez e três,
log' houve mant' e tabardo
e foi comendador d' Ocrês.

E chegou per ũa 'strada,
descalço, gram madurgada:
u se nom catavam nada
d' ũũ hom' atam rafez,
cobrou manto com espada
e foi comendador d' Ocrês.


Na imagem, cantiga de Pero Mendes da Fonseca segundo a cópia quinhentista do Cancioneiro da Biblioteca Nacional.

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